Perspectivismo é um termo usado para se referir a alguns aspectos do meu método teológico e do meu amigo e colega Vern Poythress. Nós o apresentamos especialmente nos livros Teologia Sinfônica, de Poythress1Phillipsburg: P&R, 1987. Disponível também em https://frame-poythress.org/poythress_books.htm. [Edição brasileira: POYTHRESS, Vern. Teologia Sinfônica. São Paulo: Vida Nova, 2016]., e na A Doutrina do Conhecimento de Deus, de Frame2Phillipsburg: P&R, 1987. [Edição brasileira: FRAME, John M. A Doutrina do Conhecimento de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010]., e aplicamos esse método em vários outros escritos.3N.R.: Desde a publicação original deste artigo em 2008, Frame e Poythress publicaram outras obras que desenvolvem essa abordagem. Além deste artigo, outra breve introdução é o texto de Poythress “Multiperspectivalism and the Reformed Faith,” publicado em Speaking the Truth in Love: The Theology of John M. Frame, ed. John J. Hughes (P&R Publishing, 2009), disponível online aqui. De maneira mais elabora temos a já citada Teologia Sinfônica (Vida Nova, 2016), de Poythress, e o Teologia em Três Dimensões: Um Guia Para o Triperspectivismo (Vida Nova, 2023), de Frame. E para abordagens mais avançadas temos o já citado A Doutrina do Conhecimento de Deus (Cultura Cristã, 2010), de Frame, e o Knowing and the Trinity: How Perspectives in Human Knowledge Imitate the Trinity (P&R Publishing, 2018). Veja também a análise de Timothy E. Miller desse método em The Triune God of Unity in Diversity: An Analysis of Perspectivalism, the Trinitarian Theological Method of John Frame and Vern Poythress (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2017). Para informações históricas sobre o método, veja o texto de Frame “Backgrounds to My Thought,” em Speaking the Truth in Love. Não deixe de conferir também as diversas aplicações do método na obra de Frame e Poythress. Frame aplica o perspectivismo na sua exposição das doutrinas e da ética cristã em sua Teologia do Senhorio (os quatro volumes foram publicados pela editora Cultura Cristã como: A Doutrina do Conhecimento de Deus, em 2010; A Doutrina de Deus, em 2014; A Doutrina da Palavra de Deus, em 2013; e A Doutrina da Vida Cristã, em 2013) bem como em sua Teologia Sistemática (Cultura Cristã, 2019). Poythress aplica o perspectivismo a diversas áreas do conhecimento humano na sua série de livros “Redimindo”. Em português temos os volumes Redimindo a Filosofia (Monergismo, 2019), Redimindo a Matemática (Monergismo, 2019), Redimindo a Ciência (Monergismo, 2019) e Redimindo a Sociologia (Monergismo, 2022).
Recentemente alguém me perguntou se havia uma introdução ao perspectivismo com a extensão de um artigo, e eu tive que admitir que não havia. Existem algumas introduções bastante concisas4A Teologia Sinfônica de Poythress é mais concisa, certamente, do que minha A Doutrina do Conhecimento de Deus. O estudante de perspectivismo também pode consultar meu pequeno livro Perspectives on the Word of God (Eugene: Wipf and Stock, 1999), também disponível em https://reformedperspectives.org., mas nada do “tamanho de um artigo”. Vendo isso como uma necessidade genuína, tentarei satisfazê-la aqui.5Eu absolutamente proíbo qualquer pessoa de chamá-lo de “Perspectivismo para leigos”.
Perspectivismo em geral
Eu utilizo dois tipos de perspectivismos: um como conceito geral e um como método mais específico. O conceito geral é simplesmente que, porque não somos Deus, porque somos finitos, e não infinitos, não podemos conhecer tudo de relance e, portanto, nosso conhecimento é limitado a uma perspectiva ou outra.
Deus conhece absolutamente tudo, porque ele planejou tudo, fez tudo e determina o que acontece no mundo que ele criou. Portanto nós o descrevemos como onisciente. Uma implicação interessante da onisciência de Deus é que ele não apenas conhece todos os fatos sobre si mesmo e sobre o mundo; ele também sabe como tudo se aparece de todas as perspectivas possíveis. Se houvesse uma mosca na parede do meu escritório, minha digitação seria percebida de uma maneira muito diferente por ela do que é percebida por mim. Mas Deus conhece completamente não apenas a minha digitação, mas também como essa digitação é percebida pela mosca na parede. De fato, uma vez que Deus conhece tanto situações hipotéticas quanto reais, Deus conhece exaustivamente o que uma mosca nessa posição experimentaria — se tal mosca estivesse presente — mesmo se ela não estivesse no local. O conhecimento de Deus, então, não é apenas onisciente, mas oniperspectivista. Ele conhece a partir de sua própria perspectiva infinita; mas essa perspectiva infinita inclui um conhecimento de todas as perspectivas criadas, possíveis e atuais.
Mas somos diferentes. Somos finitos e nosso conhecimento é finito. Eu só posso conhecer o mundo a partir da perspectiva limitada de meu próprio corpo e mente. Os efeitos dessa finitude, e ainda mais do pecado, devem nos alertar contra a arrogância em nossas pretensões de conhecimento. Não estou dizendo que devemos duvidar de todas as coisas. Certamente minha perspectiva limitada não me dá motivos para duvidar de que tenho cinco dedos, ou de que 2+2 = 4, ou que Deus existe6Rm 1:18-32 ensina que a existência do Deus das Escrituras é clara, até mesmo conhecida, para todos os seres humanos. Portanto, professar o agnosticismo ou o ateísmo, ou reconhecer um deus diferente, é repressão do conhecimento. As pessoas descreem, embora conheçam a verdade.. Nossa finitude não implica que todo o nosso conhecimento seja errôneo ou que a certeza seja impossível7Como a certeza pode ser obtida é discutida em minha A Doutrina do Conhecimento de Deus (Cultura Cristã, 2010). Veja também meu artigo “Certainty” em https://frame-poythress.org/frame_articles/2005Certainty.htm. Mas precisamos, na maioria das situações, nos proteger contra erros.
Uma maneira de aumentar nosso conhecimento e nosso nível de certeza é complementar nossas próprias perspectivas com as dos outros. Quando nossos próprios recursos falham, podemos consultar amigos, autoridades, livros etc. Podemos viajar para outros lugares, visitar pessoas de outras culturas. Mesmo para se ter uma boa compreensão de uma árvore, precisamos caminhar ao redor dela, olhá-la de vários ângulos.
Muitas vezes acontece que a ideia de alguém parecerá ridícula quando a encaramos pela primeira vez; mas quando tentamos entender de onde essa pessoa vem, que considerações a levaram à sua ideia, então nossa avaliação dela muda. Nesse caso, estamos tentando ver o ponto em questão da perspectiva dela, e essa perspectiva enriquece a nossa.
Em certo sentido, é claro, é impossível transcender a própria perspectiva. Mesmo quando nos movemos em torno de uma árvore, ou consultamos um amigo, ou viajamos para outra cultura, ainda estamos vendo a realidade através de nossos próprios sentidos e cérebros. No entanto, é possível que as perspectivas de outras pessoas mudem a nossa própria perspectiva e nos façam ver de maneira diferente.
Isso não significa, é claro, que todas as ideias sejam igualmente verdadeiras ou igualmente falsas. Isso não significa que, à medida que nossa perspectiva amadurece, inevitavelmente concordamos com todos. Eu acredito que muitas vezes uma ampliação de perspectiva geralmente leva a uma maior apreciação dos pontos de vista dos outros. Mas às vezes um amadurecimento na perspectiva tem o efeito oposto: ele nos convence de que a visão que estamos investigando está simplesmente errada. Não há nada no perspectivismo que leve à eliminação das distinções entre certo e errado, verdadeiro e falso. Portanto, o perspectivismo não é relativista, como às vezes é acusado8É um tanto lamentável que o nome perspectivismo foi associado à visão que estou defendendo. Não tenho certeza de quem é o responsável por esse nome; talvez seja eu mesmo. Mas o filósofo Nietzsche às vezes descrevia sua própria visão como perspectivismo (observe a ortografia diferente) e, na minha opinião, o perspectivismo de Nietzsche é de fato relativista, embora haja alguma sabedoria a ser adquirida com suas observações. O mesmo pode ser dito do perspectivismo (ele usou o sufixo –alismo) de Charles Sanders Peirce. [N.T.: John Frame utiliza o termo perspectivalism – e não perspectivism – para nomear sua teoria. Talvez uma tradução mais adequada seria perspectivalismo, um neologismo que não se confundiria com o perspectivismo da filosofia. Contudo, considerando que em suas obras traduzidas para o português geralmente foram utilizados os termos “perspectivismo” e “triperspectivismo” para verter os vocábulos originais, decidimos manter este padrão para que o leitor não pense tratar-se de conceito diferente do que é apresentado nas obras já traduzidas.].
Pelo contrário, ele pressupõe o absolutismo. Dizer que nossos próprios pontos de vista são finitos é contrastá-los com o ponto de vista absoluto e infinito do próprio Deus. E somos capazes de consultar a perspectiva de Deus e, por meio de sua Palavra e oração, em certa medida, acessar sua perspectiva infinita. Afirmo “em certa medida”. Nunca teremos o conhecimento exaustivo da realidade de Deus (no meu julgamento, nem mesmo no céu). E nunca conheceremos o mundo da mesma forma que Deus o conhece, pois, para isso, teríamos que ser Deus. Mas quando Deus fala conosco nas Escrituras e nos concede sabedoria em resposta à oração, o conhecimento humano que obtemos é garantido por sua própria perspectiva exaustiva, a perspectiva que inclui todas as outras perspectivas. Por exemplo, as Escrituras me dizem que Deus criou os céus e a terra. Esse conhecimento jamais poderá ser invalidado por qualquer outra perspectiva. Isto é verdade a partir de qualquer perspectiva possível.9Estou aqui, é claro, simplificando a questão hermenêutica. Certamente cometemos erros na interpretação bíblica, e esses erros, como outros, podem ser aliviados por meio de perspectivas mais amplas. Mas o objetivo final da hermenêutica é, com as qualificações acima, alcançar a perspectiva divina. Acredito que, pelo menos com textos relativamente simples como Gn 1:1, a igreja alcançou essa perspectiva. Mas há mais a ser dito, é claro, e pretendo abordar essas questões em A Doutrina da Palavra de Deus, a ser publicado. [N.R.: Frame tratou deste assunto esp. nos capítulos 40 e 41 da referida obra.]
Novamente, não é que passamos a olhar para as coisas da perspectiva de Deus e não da nossa. Nós não somos Deus, então não podemos ver as coisas como ele vê. E jamais poderíamos sair de nossa própria pele, por assim dizer, e deixar de lado a perspectiva de nossos próprios pensamentos e corpos. Mas como podemos enriquecer nossa perspectiva ao olhar as coisas através de diferentes ângulos (como a árvore no exemplo acima), como ao consultar outras pessoas e observar outros lugares e culturas, poderemos enriquecê-la muito mais consultando a perspectiva de Deus.
Nesse sentido, a verdade em uma perspectiva inclui a verdade de todas as outras, inclusive a de Deus. Para maximizar meu próprio conhecimento, preciso do conhecimento de todos os outros, especialmente o de Deus. Portanto, ver tudo perfeitamente a partir da minha própria perspectiva envolve ver tudo da perspectiva de todos os outros, e da perspectiva de Deus. Nesse sentido, as perspectivas finitas são dependentes da de Deus e são interdependentes entre si. Minha perspectiva deveria, idealmente, incluir a sua e vice-versa. Uma visão exaustiva do universo na minha perspectiva (se isso fosse possível, o que não é) teria que ser enriquecida pela sua e de todos os outros, incluindo a de Deus e, de fato, a da mosca na minha parede. Portanto, minha perspectiva deve incluir a sua, e a sua deve incluir a minha. Nesse sentido, todas as perspectivas finitas são interdependentes. A perspectiva de Deus é independente de uma maneira que a nossa não é, pois Deus governa todas as perspectivas. Mas mesmo seu conhecimento, como vimos, inclui um conhecimento de todas as perspectivas finitas. E todas as perspectivas finitas devem, para alcançar a verdade, “pensar os pensamentos de Deus após ele.”10Discuti prolongadamente em A Doutrina do Conhecimento de Deus, [34-56], e em Cornelius Van Til: an Analysis of His Thought (Phillipsburg: P&R, 1995), 97-113 a questão de como o chamado “conteúdo” da mente de Deus difere do “conteúdo” da mente do homem. Esta difícil questão foi debatida durante a controvérsia na década de 1940 entre Cornelius Van Til e Gordon H. Clark. Minha opinião é que tudo o que está na mente de Deus inevitavelmente difere de tudo na mente do homem, pois a mente de Deus é a criadora derradeira da mente humana, bem como seu critério de verdade e seu próprio sustento. Mesmo na área do pensamento e conhecimento, portanto, a distinção criador-criatura é inviolável. Isso não implica, porém, que Deus e o homem não possam conhecer as mesmas proposições. A expressão comum “pensar os pensamentos de Deus após ele” deve ser entendida de maneira que expresse tanto as continuidades (“pensar os pensamentos de Deus”) quanto as descontinuidades (“após dele”) entre o conhecimento de Deus e o nosso. Então, em certo sentido, todas as perspectivas coincidem. Cada uma, quando plenamente informada, inclui todo o conhecimento encontrado em todas as outras. Há uma verdade una, e cada perspectiva é apenas um ângulo a partir do qual essa verdade pode ser vista.
Nunca alcançaremos o conhecimento perfeito dessa verdade una, mas avançamos gradualmente em direção a ela. Esse avanço sempre envolve o enriquecimento de nossas perspectivas atuais ao nos referirmos às dos outros. O trabalho de obtenção do conhecimento, portanto, é sempre comunitário. E, inevitavelmente, isso envolve referência à perspectiva perfeita e exaustiva de Deus, na medida em que ele a revelou a nós.
Muitas vezes, no entanto, a revelação de Deus para nós de sua própria perspectiva é multiperspectivista em estrutura. Ele nos deu, por exemplo, quatro evangelhos, em vez de um. É importante que nós ouçamos a história de Jesus a partir de quatro perspectivas diferentes. A perspectiva de Deus, neste caso, abrange as perspectivas dos quatro escritores dos evangelhos. Sua perspectiva infinita valida essas quatro perspectivas humanas e as recomenda a todos nós. Semelhantemente, Deus nos deu Reis e Crônicas, embora esses livros se sobreponham de muitas maneiras. Ele também nos deu um relato em prosa (Ex. 12-14) e um relato poético (Ex. 15:1-18) de como Ele libertou Israel do Egito. Muitos dos Salmos também nos dão relatos poéticos do que outras partes das Escrituras nos apresentam em prosa narrativa. Há duas entregas da lei (Ex. 20:1-17, Dt. 5:1-21). Paulo frequentemente repete suas ideias (como Rom. 12 e 1 Cor. 12), adicionando e subtraindo questões de interesse, variando seus contextos.
As Escrituras, é claro, são escritas por autores humanos juntamente com o autor divino. Deus se revela inspirando os seres humanos. Ele geralmente não dita, mas permite que eles escrevam consistentemente com seus próprios dons, educação e personalidade, ou seja, suas próprias perspectivas. E por tal capacitação divina, cada autor escreve exatamente o que Deus quer que ele escreva. E Deus frequentemente determina que sua verdade é melhor transmitida através de múltiplas perspectivas humanas, em vez de apenas por uma. Nas Escrituras, todas essas perspectivas humanas transmitem verdade, e todas são garantidas pela perspectiva infinita de Deus, embora nenhuma seja idêntica à perspectiva divina. Isso é o que devemos esperar, uma vez que Deus nos criou como pessoas que aprendem através da experiência multiperspectivistas.
Tri-Perspectivismo
Agora, se o perspectivismo é verdadeiro de maneira geral, é uma parte importante do conhecimento humano focar em diferenças específicas de perspectiva. Assim, por exemplo, os estudiosos do Novo Testamento muitas vezes dão atenção às semelhanças e diferenças dos quatro Evangelhos. Este é um estudo legítimo, embora muitas vezes seja feito sem a devida consideração à unidade das Escrituras. Em minha obra ainda por ser lançada A Doutrina da Vida Cristã11N.T.: Na época do artigo, Frame ainda não havia publicado essa obra, que foi lançada no Brasil em 2019, pela Editora Cultura Cristã., argumento que os Dez Mandamentos fornecem dez perspectivas sobre a vida humana. Não é que cada mandamento trate de uma parte da ética cristã; em vez disso, cada mandamento trata do todo, a partir de uma perspectiva particular. Podemos chamar tal abordagem à ética cristã de deca-perspectivismo.
Mas Poythress e eu enfatizamos, especialmente, a importância de um conjunto de distinções tríplices, ou tríades, que vieram a ser conhecidas como tri-perspectivismo (de agora em diante, omitirei o hífen.) Muitas pessoas viram um certo mistério no número três. Mas nas Escrituras há um padrão generalizado de distinções tríplices que, embora misteriosas, nos fornecem uma iluminação considerável.
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A Trindade
O maior mistério nas Escrituras e na teologia cristã é, obviamente, o mistério da Santíssima Trindade.12Para um relato muito mais completo da doutrina da Trindade e sua base bíblica, veja minha A Doutrina de Deus, capítulos 27 a 29. Veja também a aplicação de Poythress desta doutrina à lógica e epistemologia, em “Reforming Ontology and Logic in the Light of the Trinity: An Application of Van Til’s Idea of Analogy”, em Westminster Theological Journal 57/1 (1995) 187-219. [N.R. Poythress também desenvolveu extensivamente esse tema em Knowing and the Trinity: How Perspectives in Human Knowledge Imitate the Trinity (P&R Publishing, 2018).] Adoramos um Deus, mas esse Deus é três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. As três pessoas são um Deus, não muitos. A natureza de cada pessoa é divina. Cada pessoa tem todos os atributos divinos, e em cada ato de Deus as três pessoas participam igualmente. As três pessoas são iguais em honra e glória; eles são igualmente (e exclusivamente) o objeto de nossa adoração.
As três pessoas, no entanto, não são idênticas uma à outra. Elas são distintas de várias maneiras. Os teólogos exploraram conceitos como “geração eterna” e “processão eterna”: o Pai gera eternamente o Filho, não o contrário, e o Espírito procede do Pai e do Filho, não o contrário. A Bíblia também registra atos divinos que são específicos de uma ou outra pessoa. Foi o Filho, não o Pai ou Espírito, que encarnou, morreu por nossos pecados e ressuscitou. É o Pai, não o Filho ou Espírito, que efetivamente nos chama à comunhão consigo mesmo. E é o Espírito, não o Pai ou Filho, que regenera os crentes e lhes dá dons para servir na igreja. Ainda assim, mesmo nessas ações, todas as três pessoas estão ativas. Embora o Filho, não o Pai, tenha encarnado, o Pai estava presente com ele em sua vida encarnada. E embora o Filho, não o Pai, tenha morrido na cruz, o Pai foi ativo na expiação, entregando-o por todos nós (Rom 8:32). Resumindo: mesmo nas ações distintas de cada pessoa, as outras pessoas estão envolvidas. Ou, como as Escrituras às vezes colocam, o Pai e o Espírito estão “no” Filho; o Filho está “no” Pai; e o Espírito é o Espírito do Filho e do Pai.
É tentador, portanto, formularmos a doutrina da Trindade dizendo que as três pessoas são “perspectivas” da Divindade e umas das outras. Mas isso seria enganoso. A “perspectiva” não esgota as maneiras pelas quais as três pessoas são distintas. Dizer que as três pessoas são meras perspectivas sobre a Divindade seria uma posição sabeliana, a ideia de que as diferenças das pessoas são apenas diferenças na maneira como olhamos para o único Deus. Tal abordagem reduziria as distinções Trinitárias a distinções dentro de nossa própria subjetividade. Certamente isso não está correto.
É correto dizer que as três pessoas realmente são pessoas. Eles interagem uns com os outros de maneira semelhante à maneira como os seres humanos interagem uns com os outros. Eles conversam juntos, planejam juntos, expressam amor um pelo outro. Assim, sua relação é muito mais do que meramente perspectivista.
Mas se as três pessoas não são meras perspectivas da Divindade, elas, no entanto, são perspectivas. Elas são mais do que perspectivas, mas não menos. Pois, como indiquei, cada uma das três pessoas carrega toda a natureza divina, com todos os atributos divinos. Cada um está em cada um dos outros. Então você não pode conhecer completamente o Filho sem conhecer o Pai e o Espírito, e assim por diante. Embora as três pessoas sejam distintas, nosso conhecimento de cada uma envolve o conhecimento das outras, de modo que para nós o conhecimento do Pai coincide com o conhecimento do Filho e do Espírito.
Agora vamos explorar um pouco mais a natureza do nosso conhecimento perspectivista humano das três pessoas da Trindade. Embora todas as três pessoas sejam ativas em cada ato de Deus13Ou seja, todo ato ad extra, todo ato que tenha alguma referência à criação. Há também atos divinos ad intra, atos dentro da própria natureza divina, como o Pai gerando o Filho, que não são atos que as três pessoas cooperam, mas atos de apenas uma pessoa., parece haver uma divisão geral de tarefas entre as pessoas na obra da redenção. O Pai estabelece o plano eterno de salvação; o Filho o executa, e o Espírito o aplica às pessoas. Foi o Pai que enviou o Filho para nos redimir, o Filho que realizou a redenção e o Espírito que aplica os benefícios da expiação de Cristo aos crentes. Lembre-se do livro de John Murray, Redenção Consumada e Aplicada:14Grand Rapids: Eerdmans, 1955. (N.T.: A obra foi publicada no Brasil em 2010, pela Editora Cultura Cristã]. em “redenção consumada”, Murray discute a expiação, concluída de uma vez por todas. Em “redenção aplicada”, ele discute a ordo salutis, as maneiras pelas quais o Espírito aplica a obra de Cristo aos crentes (chamado eficaz, regeneração, conversão, justificação etc.)
Generalizando, concluímos que o Pai é a autoridade suprema, o Filho o poder executivo e o Espírito a presença divina que habita no e com o povo de Deus.
Ora, é claro que a redenção não tem sentido sem cada um desses três aspectos. Sem um plano autoritativo, uma consumação eficaz e uma aplicação graciosa, nada disso tem sentido. A aplicação é necessariamente a aplicação da obra consumada de Cristo de acordo com o plano divino. A expiação é necessariamente o cumprimento do plano do Pai, e sem a obra do Espírito ele não salva. Portanto, o plano não é eficaz sem a expiação e a aplicação.
Portanto, não podemos conhecer nenhum deles adequadamente sem conhecer os demais. Embora os três sejam distinguíveis, nosso conhecimento de cada um é uma perspectiva sobre os outros e sobre o todo. Para conhecer a obra do Espírito, devemos vê-la como uma aplicação da obra do Filho pelo plano do Pai. Da mesma forma com o conhecimento da obra do Pai e do Filho.
Portanto, nosso conhecimento da obra das três pessoas é perspectivista. Em certo sentido, essas obras divinas também são perspectivistas em sua natureza. Embora sejam distinguíveis, é importante perceber que o plano divino inclui a expiação e sua aplicação; a expiação é o resultado do plano e do evento a ser aplicado; e a aplicação é a aplicação do plano e da expiação. Como a própria Trindade, esses atos divinos são misteriosamente um e muitos.
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Senhorio Divino
Portanto, nós temos uma distinção geral na obra da redenção de Deus entre autoridade, poder e presença. Cada um destes é um aspecto necessário da redenção divina, e nenhum deles faz sentido sem os outros. Cada um inclui os outros em certo sentido. Esses mesmos conceitos aparecem em uma análise do senhorio divino.15Em meus escritos, o relato exegético mais extenso do senhorio divino é encontrado nos primeiros sete capítulos de A Doutrina de Deus.
Por “Senhor”, refiro-me ao nome misterioso de Ex 3:14-15, lido “Yahweh” pelos estudiosos, mas “Senhor” na maioria das traduções em português. Com seu sinônimo hebraico Adon e seu equivalente grego kurios, é encontrado mais de 7.000 vezes nas Escrituras, principalmente como um nome de Deus e muitas vezes aplicado a Jesus Cristo. É central na história bíblica. Deus diz que este é o seu nome memorial para sempre (Ex. 3:15), e ele realiza muitas obras poderosas para que as pessoas “saibam que eu sou o Senhor” (Ex. 14:4, etc.). As confissões de fé fundamentais de ambos os testamentos (Dt 6:4-5, Rm 10:9-10, 1 Co 12:3, Fl. 2:11) são confissões de senhorio. Pode-se dizer que a mensagem básica do AT é “Deus é Senhor”, e a mensagem básica do NT é “Jesus Cristo é o Senhor”.
Em passagens como Ex 3, 20, 33:19, 34:6-7 e Is 40-66 que ressaltam e expõem o senhorio de Deus, três temas aparecem com destaque: o Senhor é (a) aquele que controla todas as coisas por seu grande poder; (b) aquele que fala com autoridade absoluta, exigindo corretamente que todos obedeçam, e (c) aquele que se entrega ao seu povo na intimidade da aliança: “Eu serei seu Deus, e vocês serão meu povo”. Eu chamo o terceiro conceito de presença porque Deus muitas vezes o expressa dizendo “Eu estarei com vocês”, e ele torna essa presença tangível em teofanias como a nuvem e o fogo que conduziram Israel pelo deserto, a glória do shekinah que habitou no tabernáculo e templo, a encarnação de Cristo e a habitação do Espírito Santo nos crentes.
Mais uma vez, os três conceitos estão relacionados em perspectiva. Cada um implica os outros e envolve os outros.
O Decálogo é um bom exemplo dessa estrutura tríplice.16Sigo o argumento de Meredith Kline de que o Decálogo, e o Deuteronômio, têm a estrutura literária de documentos pactuais. A aliança, é claro, é a relação fundamental entre Yahweh e Israel, e a “nova aliança” é a relação fundamental entre Cristo e os redimidos. “Senhor” denota a relação de um chefe da aliança com seus vassalos. Assim, senhorio e aliança andam juntos. Começa com Deus identificando-se por seu nome, Senhor. Depois, há um breve relato (chamado pelos estudiosos de “prólogo histórico”) dos benefícios que Deus concedeu a Israel no passado (“que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”). O prólogo histórico mostra o poder gracioso de Deus, seu controle sobre os eventos em benefício de Israel. Depois há comandos que exibem sua autoridade. Misturados aos mandamentos há “sanções”, bênçãos pela obediência e maldições pela desobediência. Isso indica a presença do Senhor para continuar administrando a aliança com Israel.
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Os Ofícios de Cristo
As Confissões Reformadas e outros documentos teológicos frequentemente discutem os três ofícios de Cristo como profeta, sacerdote e rei. Esses ofícios refletem as mesmas categorias que vimos anteriormente. Sua realeza representa seu controle, seu ofício profético representa sua autoridade como a palavra de Deus, e seu sacerdócio representa sua obra em favor de seu povo na história, o que temos chamado de sua presença.
Visto que os crentes estão unidos a Cristo, muitos têm feito analogias entre esses ofícios e o status dos crentes. Nós também somos profetas no sentido de que levamos a mensagem do Evangelho ao mundo. Somos reis no sentido de que “todas as coisas são nossas” (cf. 1 Co 3:22-23), e somos sacerdotes no sentido de 1 Ped. 2:8 (o que os reformadores chamaram de “o sacerdócio de todos os crentes”). Por sua vez, esses ofícios têm sido vistos como modelos para os oficiais da igreja: o presbítero docente (1 Tm 5:17) representa especialmente a autoridade de Deus; o presbítero regente (mesmo versículo) o controle de Deus, e o diácono o ministério sacerdotal da misericórdia. Como perspectivas, nenhum desses dons pode funcionar adequadamente sem os outros. Mas às vezes um ou outro é mais proeminente. De fato, às vezes há desequilíbrios em igrejas que enfatizam demais o ensino, a disciplina ou a misericórdia em detrimento dos outros.
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Aspectos da Salvação
A salvação envolve (a) Deus agindo poderosamente na história para redimir seu povo, seu poder controlador expressando-se em graça. O prólogo histórico do Decálogo é um bom exemplo disso. Essa ação histórica é o que chamamos anteriormente de “redenção consumada”. (b) Deus falando uma palavra de autoridade para proclamar essa graça e indicar as obrigações contínuas de seu povo para com ele. Teologicamente falando, esta é a “lei de Deus.” (c) Deus vindo para estar entre e dentro de seu povo. Isso é “redenção aplicada”. Novamente, três aspectos, correspondendo aos três atributos de senhorio. Nenhuma dessas funciona sem as outras. Assim, cada uma é uma perspectiva de todo o processo de salvação. Novamente, há perigos em enfatizar demais um deles em detrimento dos outros.
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Conhecimento Humano de Deus
Uma epistemologia bíblica também reconhecerá esses três elementos. As epistemologias seculares acham difícil relacionar a experiência sensorial, a razão e os sentimentos em suas explicações do conhecimento humano. Elas também ficam perplexas com a relação do sujeito (o conhecedor), o objeto (o que o conhecedor sabe) e as normas ou regras do conhecimento (lógica, razão etc.)
Nas Escrituras, a experiência sensorial (como em 1 João 1:1-3) nos apresenta a verdade. Mas essa verdade deve ser compreendida à luz das normas de Deus, sua revelação verbal. E o conhecedor não deve resistir à verdade. Ele deve estar em condições adequadas para recebê-la (Rm 1).
Assim, Deus colocou o sujeito cognoscente em contato frutífero com os objetos do conhecimento, com a mediação das normas reveladas de Deus para o conhecimento, particularmente a primazia de sua revelação.
Aqui o “objeto” é o mundo como Deus o fez e o controla; a norma é a revelação autoritativa de Deus; e o sujeito é a pessoa que vive diante de Deus. A experiência sensorial nos conecta com o mundo, mas somente se o eu for capaz de fazer tais conexões governadas pela palavra de Deus.
Assim, os três aspectos do conhecimento correspondem aos atributos do senhorio de Deus. O objeto é o mundo tal qual o controle de Deus o criou e o tem mantido. A norma é a autoridade de Deus para o conhecimento humano. E o sujeito é o conhecedor, que se encontra na presença de Deus.
Esses três aspectos do conhecimento são perspectivistas. Você não pode ter um sem os outros, e com cada um, você terá os outros. Cada item do verdadeiro conhecimento humano é a aplicação da norma autorizada de Deus a um fato da criação, por uma pessoa à imagem de Deus. Tire um desses, e não há conhecimento algum.
Assim, distingo três perspectivas de conhecimento. Na “perspectiva normativa”, fazemos a pergunta: “o que as normas de Deus nos levam a acreditar?” Na “perspectiva situacional”, perguntamos: “quais são os fatos?” Na “perspectiva existencial”, perguntamos, “que crença é mais satisfatória para um coração crente?” Dada a visão de conhecimento acima, as respostas a essas três questões coincidem. Mas às vezes é útil distinguir essas questões para nos dar vários ângulos de investigação.
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Ética
As mesmas perspectivas governam a busca pelo conhecimento ético, o conhecimento do certo e do errado.17Discuti as implicações éticas das perspectivas, especialmente nos Capítulos 3-4 de Doutrina da Vida Cristã e em meu pequeno livro Perspectives on the Word of God. Como a epistemologia secular tem sido dividida em três linhas correspondentes a essas perspectivas, a ética secular tem sido ou existencial (baseando julgamentos éticos nos sentimentos), ou teleológica (focando na felicidade) ou deontológica (focando nos deveres). Eu as vejo como existenciais, situacionais e normativas, respectivamente. Elas falham de várias maneiras em explicar a natureza das decisões éticas. Um grande problema é que a maioria dos eticistas tenta separar essas três perspectivas uma da outra.
Uma ética bíblica incluirá todas as três perspectivas. Normativamente, procuramos obedecer à palavra autoritativa de Deus, sua lei. Situacionalmente, procuramos aplicar essa lei a situações (que são, elas mesmas, uma espécie de revelação – revelação geral) de modo a maximizar a bênção divina, a maior felicidade. Existencialmente, buscamos a satisfação interior de viver como Deus nos projetou para viver, em sua presença. Essas são perspectivas. Cada uma envolve as outras. Mas cada uma serve como um freio e contrapeso contra nossos mal-entendidos sobre as outras.
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Outras Tríades
Uma vez que você comece a pensar dessa maneira, distinções triplas podem surgir regularmente em sua mente. Pense na distinção em teologia entre justificação (normativa), adoção (situacional) e santificação (existencial), a imagem de Deus como física, judicial e moral (Meredith Kline em Images of the Spirit) etc. No Apêndice A da minha A Doutrina de Deus, menciono 36 deles, alguns bastante irônicos, e em Salvation Belong to the Lord18Phillipsburg: P&R, 2006. encontro essas tríades espalhadas por todo o corpus da teologia sistemática reformada.
E na exploração do mundo, da revelação natural, também há tríades de interesse. O primeiro livro de Vern Poythress, Philosophy, Science, and the Sovereignty of God19Phillipsburg: P&R, 1976. explora como a linguística tagmêmica de Kenneth Pike se relaciona com tudo isso, tal como a distinção entre partícula, onda e campo. A antiga distinção filosófica entre o eu, o mundo e Deus (“Deus” aqui sendo entendido como uma revelação divina) é outra tríade familiar que se relaciona com nossa análise.
Conclusões
Como o perspectivismo é útil? Há alguns momentos em que acho que é uma espécie de estrutura profunda do universo e da verdade bíblica. Outras vezes (na maioria das vezes) penso nisso de forma mais modesta, como um dispositivo pedagógico. Certamente, como um dispositivo pedagógico, dá aos alunos alguns ganchos para pendurar porções de conhecimento teológico, ou, para mudar a metáfora, uma espécie de corda que serve para amarrar as coisas. Mas acho que ele tem um significado ainda mais prático.
Por um lado, acho que resolve muitos argumentos teológicos tradicionais, como se a história da redenção (a situação) é mais importante que a lei divina (normativa) ou a crença individual. Você precisa de cada uma para apreciar as outras. Esse fato possui implicações para a pregação, evangelismo e nossa apropriação pessoal das Escrituras.
Em segundo lugar, encoraja-nos ao equilíbrio. A pregação que se concentra todo o tempo na lei (normativa) e não na graça (situacional) será corrigida pela compreensão da verdadeira relação entre elas. E vice-versa. Pessoas que enfatizam o objetivo (normativo e situacional) enquanto depreciam a experiência e os sentimentos humanos (existencial) podem ser corrigidos por uma compreensão multiperspectiva. E vice-versa. O perspectivismo é uma maneira de verificarmos a nós mesmos. Se um pastor desenvolve um ministério que se concentra em normas e situações, ele pode precisar complementá-lo com algo que faça justiça à perspectiva existencial e assim por diante. Se uma congregação tem muitos dons proféticos, mas poucos reais ou sacerdotais, talvez precise buscar liderança nas duas últimas áreas.
Assim, acredito acho que o perspectivismo é um encorajamento para a unidade da igreja. Às vezes nossas divisões de teologia e prática são diferenças de perspectiva, de equilíbrio, em vez de diferenças sobre os fundamentos da fé.20Veja meu “Machen’s Warrior Children”, mencionado anteriormente, e Evangelical Reunion (Grand Rapids: Baker, 1991), também em https://frame-poythress.org/frame_books.htm. [N.R.: embora no original contenha essas referências, o artigo citado não se encontra em Evangelical Reunion, mas em Sung Wook Chung, ed., Alister E. McGrath and Evangelical Theology (Grand Rapids: Baker, 2003), também disponível aqui: https://frame-poythress.org/machens-warrior-children/.] Portanto, o perspectivismo nos ajudará a apreciar melhor uns aos outros e a apreciar a diversidade da obra de Deus entre nós.
REFERÊNCIAS:
Livros:
- CHUNG, Sung Wook (ed.) Alister E. McGrath and Evangelical Theology. Grand Rapids: Baker, 2003.
- FRAME, John M. Evangelical Reunion: Denominations and the One Body of Christ. Grand Rapids: Baker, 1991.
- ______. Cornelius Van Til: an Analysis of His Thought. Phillipsburg: P&R Publishing, 1995.
- ______. Perspectives on the Word of God. Eugene: Wipf and Stock, 1999.
- ______. Salvation Belong to the Lord. Phillipsburg: P&R Publishing, 2006.
- ______. A Doutrina do Conhecimento de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- ______. A Doutrina de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
- ______. A Doutrina da Vida Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
- ______. A Doutrina da Palavra de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
- ______. Teologia Sistemática: introdução à fé cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2023. 2 Vols.
- ______. Teologia em Três Dimensões. São Paulo: Vida Nova, 2023.
- HUGHES, John J. (ed.) Speaking the Truth in Love: The Theology of John M. Frame. Phillipsburg: P&R Publishing, 2009.
- KLINE, Meredith G. Images of the Spirit. Eugene: Wipf and Stock, 1999.
- MILLER, Timothy E. The Triune God of Unity in Diversity: An Analysis of Perspectivalism, the Trinitarian Theological Method of John Frame and Vern Poythress. Phillipsburg: P&R Publishing, 2017.
- MURRAY, John. Redenção Consumada e Aplicada. São Paulo, Cultura Cristã, 2010.
- POYTHRESS, Vern S. Philosophy, Science, and the Sovereignty of God. Phillipsburg: P&R Publishing, 1976.
- ______. Teologia Sinfônica. São Paulo: Vida Nova, 2016.
- ______. Knowing and the Trinity: How Perspectives in Human Knowledge Imitate the Trinity. Phillipsburg: P&R Publishing, 2018.
- ______. Redimindo a filosofia: Uma abordagem teocêntrica às grandes questões. Brasília: Monergismo, 2019.
- ______. Redimindo a Matemática: uma abordagem teocêntrica. Brasília: Monergismo, 2019.
- ______. Redimindo a Ciência: uma abordagem teocêntrica. Brasília: Monergismo, 2019.
- ______. Redimindo a Sociologia: uma abordagem teocêntrica. Brasília: Monergismo, 2022.
Artigos:
- FRAME, John M. “Certainty”. 2012. Disponível em: https://frame-poythress.org/certainty/. Acesso em: 29 ago. 2024.
- ______. Machen’s Warrior Children. 2012. Disponível em: https://frame-poythress.org/machens-warrior-children/. Acesso em: 29 ago. 2024.
- POYTHRESS, Vern S. Multiperspectivalism and the Reformed Faith. 2012. Disponível em: https://frame-poythress.org/multiperspectivalism-and-the-reformed-faith/. Acesso em: 29 ago. 2024.
- ______. Reforming Ontology and Logic in the Light of the Trinity: An Application of Van Til’s Idea of Analogy. 2012. Disponível em: https://frame-poythress.org/reforming-ontology-and-logic-in-the-light-of-the-trinity-an-application-of-van-tils-idea-of-analogy/. Acesso em: 29 ago. 2024.
Notas:
- 1Phillipsburg: P&R, 1987. Disponível também em https://frame-poythress.org/poythress_books.htm. [Edição brasileira: POYTHRESS, Vern. Teologia Sinfônica. São Paulo: Vida Nova, 2016].
- 2Phillipsburg: P&R, 1987. [Edição brasileira: FRAME, John M. A Doutrina do Conhecimento de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010].
- 3N.R.: Desde a publicação original deste artigo em 2008, Frame e Poythress publicaram outras obras que desenvolvem essa abordagem. Além deste artigo, outra breve introdução é o texto de Poythress “Multiperspectivalism and the Reformed Faith,” publicado em Speaking the Truth in Love: The Theology of John M. Frame, ed. John J. Hughes (P&R Publishing, 2009), disponível online aqui. De maneira mais elabora temos a já citada Teologia Sinfônica (Vida Nova, 2016), de Poythress, e o Teologia em Três Dimensões: Um Guia Para o Triperspectivismo (Vida Nova, 2023), de Frame. E para abordagens mais avançadas temos o já citado A Doutrina do Conhecimento de Deus (Cultura Cristã, 2010), de Frame, e o Knowing and the Trinity: How Perspectives in Human Knowledge Imitate the Trinity (P&R Publishing, 2018). Veja também a análise de Timothy E. Miller desse método em The Triune God of Unity in Diversity: An Analysis of Perspectivalism, the Trinitarian Theological Method of John Frame and Vern Poythress (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2017). Para informações históricas sobre o método, veja o texto de Frame “Backgrounds to My Thought,” em Speaking the Truth in Love. Não deixe de conferir também as diversas aplicações do método na obra de Frame e Poythress. Frame aplica o perspectivismo na sua exposição das doutrinas e da ética cristã em sua Teologia do Senhorio (os quatro volumes foram publicados pela editora Cultura Cristã como: A Doutrina do Conhecimento de Deus, em 2010; A Doutrina de Deus, em 2014; A Doutrina da Palavra de Deus, em 2013; e A Doutrina da Vida Cristã, em 2013) bem como em sua Teologia Sistemática (Cultura Cristã, 2019). Poythress aplica o perspectivismo a diversas áreas do conhecimento humano na sua série de livros “Redimindo”. Em português temos os volumes Redimindo a Filosofia (Monergismo, 2019), Redimindo a Matemática (Monergismo, 2019), Redimindo a Ciência (Monergismo, 2019) e Redimindo a Sociologia (Monergismo, 2022).
- 4A Teologia Sinfônica de Poythress é mais concisa, certamente, do que minha A Doutrina do Conhecimento de Deus. O estudante de perspectivismo também pode consultar meu pequeno livro Perspectives on the Word of God (Eugene: Wipf and Stock, 1999), também disponível em https://reformedperspectives.org.
- 5Eu absolutamente proíbo qualquer pessoa de chamá-lo de “Perspectivismo para leigos”.
- 6Rm 1:18-32 ensina que a existência do Deus das Escrituras é clara, até mesmo conhecida, para todos os seres humanos. Portanto, professar o agnosticismo ou o ateísmo, ou reconhecer um deus diferente, é repressão do conhecimento. As pessoas descreem, embora conheçam a verdade.
- 7Como a certeza pode ser obtida é discutida em minha A Doutrina do Conhecimento de Deus (Cultura Cristã, 2010). Veja também meu artigo “Certainty” em https://frame-poythress.org/frame_articles/2005Certainty.htm
- 8É um tanto lamentável que o nome perspectivismo foi associado à visão que estou defendendo. Não tenho certeza de quem é o responsável por esse nome; talvez seja eu mesmo. Mas o filósofo Nietzsche às vezes descrevia sua própria visão como perspectivismo (observe a ortografia diferente) e, na minha opinião, o perspectivismo de Nietzsche é de fato relativista, embora haja alguma sabedoria a ser adquirida com suas observações. O mesmo pode ser dito do perspectivismo (ele usou o sufixo –alismo) de Charles Sanders Peirce. [N.T.: John Frame utiliza o termo perspectivalism – e não perspectivism – para nomear sua teoria. Talvez uma tradução mais adequada seria perspectivalismo, um neologismo que não se confundiria com o perspectivismo da filosofia. Contudo, considerando que em suas obras traduzidas para o português geralmente foram utilizados os termos “perspectivismo” e “triperspectivismo” para verter os vocábulos originais, decidimos manter este padrão para que o leitor não pense tratar-se de conceito diferente do que é apresentado nas obras já traduzidas.]
- 9Estou aqui, é claro, simplificando a questão hermenêutica. Certamente cometemos erros na interpretação bíblica, e esses erros, como outros, podem ser aliviados por meio de perspectivas mais amplas. Mas o objetivo final da hermenêutica é, com as qualificações acima, alcançar a perspectiva divina. Acredito que, pelo menos com textos relativamente simples como Gn 1:1, a igreja alcançou essa perspectiva. Mas há mais a ser dito, é claro, e pretendo abordar essas questões em A Doutrina da Palavra de Deus, a ser publicado. [N.R.: Frame tratou deste assunto esp. nos capítulos 40 e 41 da referida obra.]
- 10Discuti prolongadamente em A Doutrina do Conhecimento de Deus, [34-56], e em Cornelius Van Til: an Analysis of His Thought (Phillipsburg: P&R, 1995), 97-113 a questão de como o chamado “conteúdo” da mente de Deus difere do “conteúdo” da mente do homem. Esta difícil questão foi debatida durante a controvérsia na década de 1940 entre Cornelius Van Til e Gordon H. Clark. Minha opinião é que tudo o que está na mente de Deus inevitavelmente difere de tudo na mente do homem, pois a mente de Deus é a criadora derradeira da mente humana, bem como seu critério de verdade e seu próprio sustento. Mesmo na área do pensamento e conhecimento, portanto, a distinção criador-criatura é inviolável. Isso não implica, porém, que Deus e o homem não possam conhecer as mesmas proposições. A expressão comum “pensar os pensamentos de Deus após ele” deve ser entendida de maneira que expresse tanto as continuidades (“pensar os pensamentos de Deus”) quanto as descontinuidades (“após dele”) entre o conhecimento de Deus e o nosso.
- 11N.T.: Na época do artigo, Frame ainda não havia publicado essa obra, que foi lançada no Brasil em 2019, pela Editora Cultura Cristã.
- 12Para um relato muito mais completo da doutrina da Trindade e sua base bíblica, veja minha A Doutrina de Deus, capítulos 27 a 29. Veja também a aplicação de Poythress desta doutrina à lógica e epistemologia, em “Reforming Ontology and Logic in the Light of the Trinity: An Application of Van Til’s Idea of Analogy”, em Westminster Theological Journal 57/1 (1995) 187-219. [N.R. Poythress também desenvolveu extensivamente esse tema em Knowing and the Trinity: How Perspectives in Human Knowledge Imitate the Trinity (P&R Publishing, 2018).]
- 13Ou seja, todo ato ad extra, todo ato que tenha alguma referência à criação. Há também atos divinos ad intra, atos dentro da própria natureza divina, como o Pai gerando o Filho, que não são atos que as três pessoas cooperam, mas atos de apenas uma pessoa.
- 14Grand Rapids: Eerdmans, 1955. (N.T.: A obra foi publicada no Brasil em 2010, pela Editora Cultura Cristã].
- 15Em meus escritos, o relato exegético mais extenso do senhorio divino é encontrado nos primeiros sete capítulos de A Doutrina de Deus.
- 16Sigo o argumento de Meredith Kline de que o Decálogo, e o Deuteronômio, têm a estrutura literária de documentos pactuais. A aliança, é claro, é a relação fundamental entre Yahweh e Israel, e a “nova aliança” é a relação fundamental entre Cristo e os redimidos. “Senhor” denota a relação de um chefe da aliança com seus vassalos. Assim, senhorio e aliança andam juntos.
- 17Discuti as implicações éticas das perspectivas, especialmente nos Capítulos 3-4 de Doutrina da Vida Cristã e em meu pequeno livro Perspectives on the Word of God.
- 18Phillipsburg: P&R, 2006.
- 19Phillipsburg: P&R, 1976.
- 20Veja meu “Machen’s Warrior Children”, mencionado anteriormente, e Evangelical Reunion (Grand Rapids: Baker, 1991), também em https://frame-poythress.org/frame_books.htm. [N.R.: embora no original contenha essas referências, o artigo citado não se encontra em Evangelical Reunion, mas em Sung Wook Chung, ed., Alister E. McGrath and Evangelical Theology (Grand Rapids: Baker, 2003), também disponível aqui: https://frame-poythress.org/machens-warrior-children/.]