Tiago: Comentário Exegético

O comentário de Scot McKnight sobre a carta de Tiago é uma adição extremamente bem-vinda à área de estudo. Este comentário substitui o comentário de Adamson, de 1976,1ADAMSON, James B. The Epistle of James. Grand Rapids: Eerdmans, 1976. 227 p. (NICNT). na série NICNT e mais do que dobra seu tamanho, mas, apesar disso, não se torna uma leitura seca ou pedante. McKnight escreve de forma envolvente, bem-humorada e reflexiva, atraindo o leitor para as diversas questões que aborda e trazendo clareza aos vários debates sobre temas introdutórios e interpretativos.

O comentário segue o formato padrão, com uma introdução ao complexo tema da autoria desta epístola, um guia útil sobre como ler Tiago, e introduções à (controversa) questão dos temas centrais da epístola e como a epístola é estruturada. Ainda que haja menos interesse em questões sobre o público destinatário e permanecendo relativamente não conclusivo quanto à data (embora optando pela década de 50 d.C.), a introdução de McKnight parece mais focada em ajudar o leitor a ler por si mesmo a epístola de Tiago, compreendendo o caráter do autor e o contexto literário da carta, de modo que a voz da epístola possa emergir dentro do cânon. Nesse sentido, McKnight leva adiante suas exortações introdutórias para “ler Tiago!” e depois “ler Tiago à luz de Tiago!” (p. 1 [referência à edição americana]), primeiro auxiliando sobre a pessoa e o contexto do autor, bem como os temas e potenciais estruturas da epístola, para emergir de tal forma que o leitor se aproxime do texto com grande respeito antes mesmo de começar.

À medida que o comentário avança, cada perícope recebe uma breve introdução, uma tradução que compara de forma útil as interpretações da NRSV e da TNIV,2N.T.: A NRSV (New Revised Standart Version) possui uma tradução mais formal, como a ARA e NAA. Já a TNIV (Today’s New International Version) possui uma tradução mais dinâmica, como a NVI e NVT. Não tenho como isso foi adaptado na edição brasileira. e depois uma discussão detalhada verso por verso. Como é normal para a série, o grego aparece nas notas de rodapé, para não interromper o fluxo do texto, e a transliteração e o uso de vocabulário são suaves, tornando este um texto útil tanto para aqueles que conhecem grego e hebraico quanto para aqueles que não conhecem. Da mesma forma, discussões gramaticais detalhadas são mínimas e, mais frequentemente, aparecem nas notas de rodapé com o grego, apoiando novamente a noção de um comentário abrangente que não afasta leitores de diferentes níveis. Quando as discussões gramaticais são significativas, ele as inclui no texto, como as implicações do tempo presente em Tg 2:9, que não significa simplesmente “algo que está acontecendo no momento”, mas, com base na teoria aspectual, ações “retratada como incompletas e retratadas como ocorrendo diante de nossos olhos” (p. 209; veja 71n12). McKnight equilibra bem discussões técnicas e com a manutenção da consciência do leitor a respeito de onde ele está na teologia e no argumento do texto mais amplo.

McKnight adota algumas posições menos estabelecidas, como considerar todo o trecho de Tg 1:2–27 como “uma única unidade endereçada a um público específico: a comunidade messiânica pobre que está sendo oprimida por pessoas em posições de poder” (p. 68), identificando um viés econômico em todas as provações e tentações descritas neste capítulo. Isso o leva, por exemplo, em Tg 1:2-4, a entender que “qualquer tipo de provação” [NVT] significa mais especificamente “sofrimento socioeconômico” (p. 76). Da mesma forma, ele sustenta que “a totalidade de 3:1–4:12 é dirigida a professores na comunidade messiânica” (p. 267), o que, eu argumentaria, tem implicações sobre como esse texto é lido em comunidade. Embora ele mantenha consistência, também apresenta outras interpretações proeminentes e, onde diverge significativamente, descreve como essas interpretações se manifestam no texto. Assim, o comentário não se inclina a posições isoladas, permanecendo fiel ao esboço do texto de McKnight, mesmo enquanto apresenta de forma justa as várias interpretações. Seu uso e consciência da bibliografia atual são sólidos.

Uma das maiores forças do comentário é o uso magistral que McKnight faz da literatura externa para ajudar a revelar o significado do texto. Em praticamente todos os versículos há pelo menos referências entre parênteses a outros textos do Novo Testamento com vocabulário ou ensinamento semelhante (por exemplo, sua discussão sobre “maldade” em Tg 3:16, p. 309), mas é fornece mais frequentemente citações dos livros Sapienciais, Deuteronômio, Provérbios, Eclesiástico, os profetas, os Evangelhos e outros textos bíblicos, bem como da literatura grega e de outros escritos judaicos antigos. Com isso, o comentário torna-se um recurso valioso para aqueles que desejam situar o texto em seu contexto literário e compreender onde Tiago é semelhante e onde difere de outras literaturas. Da mesma forma, a leitura literário-teológica de McKnight de Tiago permite que ele veja textos como Tg 2:14-26 fluindo “naturalmente de Tg 2:1-13” (p. 223). Sua leitura de Tiago como um documento coeso e teológico pode ser uma das maiores contribuições deste comentário. Mesmo onde alguém possa discordar de sua interpretação, McKnight demonstra uma notável consciência do mundo judaico-cristão de onde a epístola teve origem, da literatura relevante (de então e atual) e um respeito pelo texto que é revigorante. Na minha perspectiva, este comentário amplamente expandido da série NICNT se destaca como uma adição valiosa à área de estudo, sendo um recurso de ampla utilidade.

Notas:

  • 1
    ADAMSON, James B. The Epistle of James. Grand Rapids: Eerdmans, 1976. 227 p. (NICNT).
  • 2
    N.T.: A NRSV (New Revised Standart Version) possui uma tradução mais formal, como a ARA e NAA. Já a TNIV (Today’s New International Version) possui uma tradução mais dinâmica, como a NVI e NVT. Não tenho como isso foi adaptado na edição brasileira.

Outras Resenhas

plugins premium WordPress